Frase

"A Revolução Francesa começou com a declaração dos direitos do homem, e só terminará com a declaração dos direitos de Deus." (de Bonald).
São Paulo, quarta-feira, 27 de março de 2013

A Paixão de Cristo revive na Paixão da Igreja

Autor: Paulo Roberto Campos   |   19:26   3 comentários


Plinio Corrêa de Oliveira (*)


A evidência dos fatos deixa patente que a partir do Concílio Vaticano II [foto abaixo] penetrou na Igreja, em proporções impensáveis, a “fumaça de Satanás”de que falou Paulo VI, a qual se foi dilatando dia a dia mais, com a terrível força de expansão dos gases. Para escândalo de incontáveis almas, o Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo entrou no sinistro processo da como que autodemolição, a que aludiu aquele mesmo Pontífice, em Alocução de 7 de dezembro de 1968.
A História narra os inúmeros dramas que a Santa Igreja Católica Apostólica Romana sofreu nos vinte séculos de sua existência. Oposições que germinaram fora d’Ela, e de fora mesmo tentaram destruí-la. Tumores formados dentro d’Ela, extirpados, contudo, pela própria Esposa de Cristo, mas que, já então de fora para dentro, tentaram destruí-la com ferocidade.

Quando, porém, viu a História, antes de nossos dias, uma tentativa de demolição da Igreja, já não mais articulada por um adversário, mas qualificada de como que autodemolição em altíssimo pronunciamento de repercussão mundial?

A atitude normal de um católico vendo a Igreja, sua Mãe, passar por essa crise deve ser antes de tudo de profunda tristeza, porque é lamentável que isso seja assim. É um perigo para incontáveis almas que a Igreja seja afligida por tal crise. E, por essa razão, pode-se ter a certeza de que quando Nosso Senhor, do alto da cruz, viu todos os pecados que haveriam de ser cometidos contra a obra da Redenção que Ele consumava de modo tão profundamente doloroso, sofreu enormemente em vista de tal gênero de pecados, cometidos em nossos dias.

E, evidentemente, todos esses pecados produziram sofrimentos verdadeiramente inenarráveis no Sapiencial e Imaculado Coração de Maria, que pulsava de dor no peito da Santíssima Virgem enquanto Ela estava de pé junto à Cruz.

Considerando quanto Nosso Senhor e sua Santíssima Mãe sofreram por causa do que agora está se passando, é impossível não se ficar consternado, muito mais do que em qualquer Sexta-Feira Santa anterior, porque talvez este seja um dos pontos mais agudos da Paixão, e que se mostra em toda a sua hediondez nas atuais circunstâncias da vida da Igreja.

O homem contemporâneo é um adorador do prazer, do gáudio, da diversão, e tem horror ao sofrimento.

Ora, está-se aqui em presença de um padecimento agudíssimo. Pode-se compreender, pois, embora tal atitude não seja justificável, a posição de tantas almas que evitam pensar nisso e considerar a fundo o que está se passando para não sofrer em união com Nosso Senhor esta situação trágica, como trágica foi a Paixão.
Em face do drama em que se encontra a Santa Igreja, muitas almas procuram, então, assumir uma posição de indiferença, parecida com a de numerosos contemporâneos de Nosso Senhor, que acreditavam que Ele era Homem-Deus. Mas que, vendo-O passar durante a Via Sacra, em vez de se compadecer por seus lancinantes sofrimentos, achavam melhor não considerá-los, e pensar em outras coisas.

E eis a prova: Nosso Senhor pregou maravilhas e fez milagres portentosos que devem ter impressionado pelo menos uma parte considerável do povo que O cercava. Não seria concebível que essa parte, santamente impressionada, tenha se mantido numa atitude tão quieta, inerte, diante do que se passava. E que a única pessoa que fez algo em prol do Redentor, durante a parte inicial da Via Sacra, tenha sido a Verônica com o seu véu, no qual ficou estampada, depois, a face sagrada do Salvador. Verdadeiramente, mais ninguém a não ser ela tomou tal atitude.
As santas mulheres e Nossa Senhora juntaram-se mais adiante a Nosso Senhor e foram até o alto do Calvário. A Virgem Santíssima está acima de todo elogio. As santas mulheres, que A acompanharam, merecem um elogio que participa do louvor a que Nossa Senhora fez jus. Mas, fora disso, inércia.

Por ocasião da Semana Santa, o que mais se deve pedir a Nossa Senhora, é que Ela nos liberte desse estado de espírito, de tal mentalidade.

Se nosso Redentor está sofrendo, devo querer padecer aquilo que O atormenta. E sofrerei isso meditando nas dores d’Ele. Esse é o meu dever, dada a união que Ele condescendeu misericordiosamente em estabelecer entre Si mesmo e mim. E o que não for isso não pode deixar de ser qualificado senão de abominável.

Os dias em que vivemos são de gravidade, de tristeza, mas na última fímbria do horizonte aparece uma alegria incomparavelmente maior do que qualquer gáudio terreno: a promessa de um sol que nascerá — o Reino de Maria, anunciado no ano de 1917 por Nossa Senhora em Fátima.


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(*) Artigo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, distribuído à imprensa em 25-2-1994.

São Paulo, sábado, 23 de março de 2013

O Bofe da Igreja

Autor: Paulo Roberto Campos   |   13:09   17 comentários

Segundo Leonardo Boff, a Igreja deveria ser destituída de todo poder. Seria uma "igreja ecológica" (sic) e que vivesse "fora dos palácios e dos símbolos do poder"
No último post tratamos de quanto é contrária à da Igreja Católica a visão de Frei Beto (A concepção de Frei Beto sobre a Igreja é diametralmente oposta à Santa Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo). No mesmo sentido, recebi ontem um artigo de outro “teólogo” da libertação. Trata-se de Leonardo Bof, cujo sobrenome — como fiz em relação ao pseudônimo de Frei Beto — grafo com um só “f”, pois ambos são miserabilistas e contrários ao supérfluo, devendo, portanto, ser “simples” em tudo...


Leonardo Boff e sua atual companheira
Aliás, Bof também deveria, em razão da “pobreza” e da “simplicidade” que defende, desapegar-se do prenome “Leonardo”, pois este é seu nome religioso, ao qual só tinha direito enquanto foi franciscano. Desde que abandonou sua Ordem religiosa, em 1992, e juntou-se à madame aí do lado, voltou de fato a ser o Genézio Boff constante de seu registro civil.

Mas, voltando ao mencionado artigo, trata-se de uma matéria do Sr. Genézio Bof para o “Jornal do Brasil (on-line), do dia 17 último, intitulada “O papa Francisco chamado a restaurar a Igreja”. Nela não transparece a humildade franciscana — a cujo chamado ele voltou as costas —, mas sim a pretensão de querer dar lições de “Teologia da Libertação” ao próprio Papa. Imaginem só! Vejamos um trecho do artigo:

“Francisco não é um nome. É um projeto de Igreja, pobre, simples, evangélica e destituída de todo o poder. É uma Igreja que anda pelos caminhos, junto com os últimos; que cria as primeiras comunidades de irmãos que rezam o breviário debaixo de árvores junto com os passarinhos. É uma Igreja ecológica (sic) que chama a todos os seres com a doce palavra de ‘irmãos e irmãs’. Francisco se mostrou obediente à Igreja dos papas e, ao mesmo tempo, seguiu seu próprio caminho com o evangelho da pobreza na mão. Escreveu o então teólogo Joseph Ratzinger: ‘O não de São Francisco àquele tipo imperial de Igreja não poderia ser mais radical, é o que chamaríamos de protesto profético’ (em “Zeit Jesu”, Herder 1970, 269). Ele não fala, simplesmente inaugura o novo. Creio que o papa Francisco tem em mente uma Igreja assim, fora dos palácios e dos símbolos do poder”.
Ao ler tal sofisma, uma “bofada”, recordei-me de Joãozinho Trinta. Lembram-se? Com muito conhecimento de causa, o carnavalesco afirmara em 1978: “O povo gosta de luxo. Quem gosta de miséria e intelectual”. É por isso que se vê no carnaval o povo vestido de príncipes, princesas, reis e rainhas, com seus coloridos mantos e coroas douradas.

Por isso também é que se costuma dizer que “a Igreja é o palácio dos pobres”. O povo gosta de pompa e circunstância, de esplendor, de coisas maravilhosas que lembrem o Céu, de belas e ricas cerimônias religiosas como as de antigamente, que faziam superlotar praças e igrejas — hoje esvaziadas por causa das pregações da doutrina miserabilista da “Teologia da Libertação”.

E por que o povo gosta de tudo isso? Simplesmente porque, conforme disse Tertuliano, “a alma humana é naturalmente cristã”, feita à imagem e semelhança de Deus, que é Soberano Todo-Poderoso, Senhor do Céu e da Terra, dos Anjos e dos Homens.

A fim de nos mostrar a verdadeira doutrina católica, segundo a qual não existe contradição entre as grandezas esplendorosas da Igreja e o autêntico espírito de pobreza — refutando assim o sofisma do Sr. Genézio Bof —, recorro novamente ao líder católico brasileiro Plinio Corrêa de Oliveira, de quem reproduzo uma matéria publicada na revista Catolicismo em dezembro/1958. Mais de meio século depois, a mesma se mostra hoje mais atual do que nunca.


Pobreza e fausto: extremos harmônicos no firmamento da Igreja 


Plinio Corrêa de Oliveira (*)


Um aspecto da Santa Igreja

Numa cela cheia de penumbra, ante um crucifixo que relembra a morte mais dolorosa que jamais houve, um monge cartuxo [foto] folheia um devocionário. Revestido de um simples e pobre burel, com uma longa barba, esse Religioso parece a personificação de todos os elementos que impregnam o ambiente que o rodeia: gravidade extrema, resolução varonil de só viver para o que é profundo, verdadeiro, eterno, nobre simplicidade, espírito de renúncia a tudo quanto é da Terra, pobreza material enfim, iluminada pelos reflexos sobrenaturais da mais alta riqueza espiritual.

Outro aspecto da Santa Igreja

Na imensa nave central da Basílica de São Pedro, movimenta-se majestoso o cortejo papal. Na fotografia, percebe-se apenas uma parte dele, isto é, alguns Cardeais e os dignitários eclesiásticos e leigos que precedem imediatamente a sedia gestatória. Nesta, o Sumo Pontífice, ladeado dos famosos flabelli e seguido da Guarda Nobre. Ao fundo, ergue-se o Altar da Confissão, com suas elegantíssimas colunas e seu esplêndido dossel. E bem mais atrás a célebre Glória de Bernini. As altas paredes recobertas de mármores admiráveis e adornadas de relevos, os arcos a um tempo leves e imensos, as luzes que resplandecem como se fossem estrelas ou fulgidíssimos brilhantes, tudo enfim se reveste de uma grandeza, de uma riqueza que é bem o supra-sumo do que a Terra pode apresentar de mais belo. É a maior pompa de que o homem seja capaz, realçada pela magnificência da arte e pelo esplendor dos recursos naturais da pedra.

* * *

O que em um quadro é gravidade recolhida, no outro é glória irradiante. O que em um é pobreza, no outro é fausto. O que em um é simplicidade, no outro é requinte. O que em um é renúncia às criaturas, no outro é a superabundância das mais esplêndidas dentre elas. Contradição? É o que muitos diriam: pode-se, então, amar a um tempo a riqueza e a pobreza, a simplicidade e a pompa, a ostentação e o recolhimento? Pode-se a um tempo louvar o abandono de todas as coisas da Terra, e a reunião de todas elas para a constituição de um quadro em que reluzem os mais altos valores terrenos?

O problema é muito atual, no momento em que Sua Santidade o Papa João XXIII se mostra tão edificantemente zeloso das esplêndidas tradições vaticanas, com manifesto desconcerto de elementos que têm uma mentalidade à Aneurin Bevan (o líder trabalhista que foi paladino na luta contra todas as pompas, e assistiu de costas a uma parte da cerimônia de coroação da Rainha Elizabeth II).


Não, entre uma e outra ordem de valores não existe contradição, senão na mente dos igualitários, servos da Revolução. Pelo contrário, a Igreja se mostra santa, precisamente porque com igual perfeição, com a mesma sobrenatural genialidade, sabe organizar e estimular a prática das virtudes que esplendem na vida obscura do Monge, e das que refulgem no cerimonial sublime do Papado. Mais ainda. Uma coisa se equilibra com a outra. Quase poderíamos dizer que um extremo (no sentido bom da palavra) compensa a outro e com ele se concilia.

O fundo doutrinário no qual estes dois santos extremos se encontram e se harmonizam é muito claro. Deus Nosso Senhor deu-nos as criaturas, a fim de que estas nos sirvam para chegarmos até Ele. Assim, cumpre que a cultura e a arte, inspiradas pela Fé, ponham em evidência todas as belezas da criação irracional e os esplendores de talento e virtude da alma humana. É o que se chama cultura e civilização cristã. Com isto, os homens se formam na verdade e na beleza, no amor da sublimidade, da hierarquia e da ordem que no universo espelham a perfeição d’Aquele que o fez. E assim as criaturas servem, de fato, para a nossa salvação e a glória divina. Mas, de outro lado, elas são contingentes, passageiras; só Deus é absoluto e eterno. Cumpre lembrá-lo. E por isto é bom afastar-se dos seres criados, para no desprezo de todos eles pensar só no Senhor.

Do segundo modo, considerando tudo o que as criaturas são, se sobe até Deus; e do outro modo, se vai até Ele considerando o que elas não são. A Igreja convida seus filhos a irem por uma e outra via simultaneamente, pelo espetáculo sublime de suas pompas, e pela consideração das admiráveis renúncias que só Ela sabe inspirar e fazer realizar efetivamente.

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(*) Catolicismo, Nº 96 – Dezembro/1958.

São Paulo, quarta-feira, 20 de março de 2013

Eutanásia para os Jovens

Autor: Edson   |   11:31   Seja o primeiro a comentar


Um jovem conversava com sua mãe sobre o sofrimento e os problemas da vida ... e o tema da eutanásia entrou em cena (morrer logo, sem sofrer, quando se está desenganado)...

O rapaz disse: "Mamãe, nunca me deixe viver em estado vegetativo, dependendo de máquinas e líquidos de uma garrafa. Se me vir nesse estado, desligue logo todos os aparelhos que me mantém artificialmente com vida. PREFIRO MORRER".

Então, a mãe se levantou, olhou para ele com cara de admiração e desligou:

A TV,
O DVD,
O CABO DE INTERNET,
O PC,
O MP3/4,
O PLAYSTATION 3,
O PSP,
A WIRELESS,
O TELEFONE FIXO,
TIROU O CELULAR,
O IPOD,
O BLACKBERRY
E RETIROU DA GELADEIRA A COCA-COLA E AS CERVEJAS!

E ela quase matou o menino!


São Paulo, domingo, 17 de março de 2013

A concepção de Frei Beto sobre a Igreja é diametralmente oposta à Santa Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo

Autor: Paulo Roberto Campos   |   10:19   13 comentários

Acima à esquerda, uma igreja bem ao estilo "Teologia da Libertação", igualitária e tribalista, contrasta com o esplendor da Basílica de São Pedro em Roma

Começo prestando uma homenagem a Frei Beto. Por ser partidário da teoria do gênero, talvez ele não goste da palavra homenagem, derivada de homem. Seja como for, homenageio-o grafando seu pseudônimo com apenas um “t”, atendendo assim aos ditames de sua mentalidade miserabilista, contrária ao supérfluo...

Em seu recente artigo “Os desafios para o novo Papa” (“O Globo”, 6-3-13), logo de início o controvertido “teólogo” da libertação faz uma declaração muito apropriada para quem desejasse a destruição da Santa Igreja como Nosso Senhor Jesus Cristo A estabeleceu, ou seja, uma instituição sacral e hierárquica.

Escreve o irrequieto frade dominicano, tão simpático ao regime ditatorial cubano que há mais de 50 anos subjuga e escraviza — não por um “governo colegiado”, mas através de um “chefe de Estado supremo e absoluto”, Fidel ou Raúl Castro — todo um povo:
“Quais os grandes desafios a serem enfrentados pelo novo Papa? Primeiro, implementar as decisões do Concílio Vaticano II, ocorrido há 50 anos! Isso significa mexer na estrutura piramidal da Igreja, flexibilizar o absolutismo papal, instaurar um governo colegiado. Seria saudável que o Vaticano deixasse de ser um Estado e, o Papa, chefe de Estado, e fossem suprimidas as nunciaturas, suas representações diplomáticas. A Santa Sé precisa confiar nas conferências episcopais, como a CNBB, que representam os bispos de cada país.”
Como se nota, o progressista Frei Beto desejaria “democratizar” a Igreja — cuja última consequência seria a abolição do Papado — substituindo a autoridade monárquica do Sucessor de São Pedro por um “colegiado” — uma espécie de grupo religioso pentecostalista atuando à maneira de deputados, com direitos igualitários, dentro da Igreja.

Em seu célebre livro Revolução e Contra-Revolução, Plinio Corrêa de Oliveira refuta a crítica destrutiva do frade dominicano, explicitando o objetivo demolidor da corrente de eclesiásticos da esquerda dita católica. Eis o que no mencionado livro (Parte III, Cap. III) o autor escreve quando trata do que denomina IV Revolução, um movimento destinado a empurrar a sociedade civilizada para uma vida tribal:
Tribalismo eclesiástico — Pentecostalismo

Falemos da esfera espiritual. Bem entendido também a IV Revolução quer reduzir ao tribalismo. E o modo de o fazer já se pode bem notar nas correntes de teólogos e canonistas que visam transformar a nobre e óssea rigidez da estrutura eclesiástica, como Nosso Senhor Jesus Cristo a instituiu e 20 séculos de vida religiosa a modelaram magnificamente, num tecido cartilaginoso, mole e amorfo, de dioceses e paróquias sem circunscrições territoriais definidas, de grupos religiosos em que a firme autoridade canônica vai sendo substituída gradualmente pelo ascendente dos “profetas” mais ou menos pentecostalistas, congêneres, eles mesmos, dos pajés do estruturalo-tribalismo, com cujas figuras acabarão por se confundir. Como também com a tribo-célula estruturalista se confundirá, necessariamente, a paróquia ou a diocese progressista-pentecostalista.

'Desmonarquização' das autoridades eclesiásticas

Nesta perspectiva, que tem algo de histórico e de conjetural, certas modificações de si alheias a esse processo poderiam ser vistas como passos de transição entre o status quo pré-conciliar e o extremo oposto aqui indicado. Por exemplo, a tendência ao colegiado como modo de ser obrigatório de todo poder dentro da Igreja e como expressão de certa ‘desmonarquização’ da autoridade eclesiástica, a qual ipso facto ficaria, em cada grau, muito mais condicionada do que antes ao escalão imediatamente inferior.

Tudo isto, levado às suas extremas consequências, poderia tender à instauração estável e universal, dentro da Igreja, do sufrágio popular que em outros tempos foi por Ela adotado, às vezes para preencher certos cargos hierárquicos; e, num último lance, poderia chegar, no quadro sonhado pelos tribalistas, a uma indefensável dependência de toda a Hierarquia em relação ao laicato, suposto porta-voz necessário da vontade de Deus. 'Da vontade de Deus', sim, que esse mesmo laicato tribalista conheceria através das revelações 'místicas' de algum bruxo, guru pentecostalista ou feiticeiro; de modo que, obedecendo ao laicato, a Hierarquia supostamente cumpriria sua missão de obedecer à vontade do próprio Deus.
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Como vemos, Frei Beto procura em seu artigo indicar ao novo Papa o (des)caminho a seguir: dessacralizar a Igreja e transformá-la numa entidade igualitária e tribalista ao “estilo” do miserabilismo cubano. Enfim, uma igreja bem de acordo com a “Teologia da Libertação” do ex-frei Bof (deixo aqui, também a ele, minha homenagem...) e em nada conforme ao estabelecido por Nosso Senhor Jesus Cristo para a Santa Igreja, Católica, Apostólica, Romana.

São Paulo, sexta-feira, 15 de março de 2013

Instituto Plinio Corrêa de Oliveira enviou telegrama ao Papa Francisco

Autor: Edson   |   11:20   2 comentários

Fumaça branca anuncia a eleição do novo Pontífice - veja o telegrama enviado pelo Instituto Plinio Corrêa de Oliveira ao Papa recém-eleito

A cada conclave, o surgimento da “fumata bianca” na chaminé da Capela Sixtina assinala o momento em que pelo orbe católico se espalha a notícia, sempre prenhe de júbilo e de esperança, de que a Barca de Pedro tem um novo timoneiro; bem como alimenta a expectativa do anúncio solene do “habemus Papam”, feito pelo Cardeal Protodiácono, quando todos, afinal, conhecem o nome escolhido para ocupar a Cátedra de Pedro. Tal a força divina da Santa Igreja que esse evento cria compreensível emoção até entre muitos daqueles que afirmam não professar qualquer fé religiosa.

O anúncio da eleição do Cardeal D. Jorge Mario Bergoglio, como Papa Francisco, repetiu, uma vez mais, todo este ritual solene em que se mesclam esperanças, preces confiantes e gestos solenes. É fácil perceber que tal escolha tenha causado especial comoção e alegria entre os católicos latino-americanos. Ver, pela primeira vez, no Sólio de São Pedro, um Pastor oriundo do chamado Continente da Esperança é fator compreensível de orgulho.

Essa escolha de um primeiro Papa argentino reconhece o papel central da América Latina na vida da Santa Igreja e do mundo contemporâneo e, mais ainda, o papel primordial que a esta caberá no reerguimento da civilização cristã.

Vem-nos à memória, nesse particular, as proféticas palavras do diretor do jornal O Legionário, o então jovem deputado Plinio Corrêa de Oliveira, num artigo de 15 de outubro de 1933, intitulado precisamente “A missão da América Latina”:

“Nesta tarde de civilização, que ameaça ser a tarde da própria humanidade, só dois fatores nós vemos realmente capazes de abrir para o homem uma janela salvadora sobre o futuro: no plano espiritual, a Igreja Católica, e no plano terreno, a América Latina.

Uma lenda antiga nos conta que à beira de certo lago havia um rochedo que crescia à medida que as ondas o acometiam, de sorte a nunca ser submergido, ainda nas maiores tempestades. Hoje em dia, este rochedo é a Pedra, é a Cátedra de Pedro, que tem avultado com as revoluções, zombando das heresias, crescendo em vigor à medida que seus adversários crescem em rancor. [...] Assistiu ao nascer de todos os países do Ocidente. Vê-los-ia morrer sem receios por seus próprios dias, que não se contam com a brevidade dos dias de uma nação. [...]

Para atuar, porém, ela também se serve de fatores humanos. E, destes, o mais promissor é a América Latina.

Tenham embora os católicos latino-americanos pecado como pecaram, não pesa sobre os ombros de suas nações, ainda na infância, a culpa esmagadora de que [outros continentes] são réus. [...] É certo que a nós, como nações, se poderia aplicar a frase de Santo Agostinho: “tantilus puer, et tantum peccator!”- Tão jovem, e já tão grande pecador!

No entanto, nunca partiu daqui um grito de heresia. [...] Apesar dos pesares, nossos costumes ainda conservam muito daquela suave urbanidade que é a característica das índoles cristãs. [...] Quando, portanto, da imensa caldeira em que fervem os restos de nossa civilização emergirem os primeiros princípios de uma nova ordem de coisas, tendo por base o respeito à Igreja, à propriedade e à família, só a América do Sul oferecerá ao mundo um caminho a ser edificado, com suas regiões imensas, que as crises econômicas não esgotaram, e seus povos de reservas morais sólidas, que até lá terão passado pelo cadinho do sofrimento, e nele terão formado sua têmpera de povos fortes.

A América do Sul será, portanto, o grande laboratório onde a nova civilização católica se vai erguer.”

Numerosos analistas apontam para a eleição e a ação do Papa Wojtyla como um dos fatores decisivos para a derrubada do Comunismo moribundo na Europa de Leste. Possam a eleição e a ação do Papa Francisco derrubar o seu sucedâneo crioulo, o neo-socialismo populista do século XXI, também ele moribundo depois da saída de Hugo Chávez da cena latino-americana!

O Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, nas sendas de seu inspirador, não pode deixar de almejar ao novo Pontífice, em quem reside o poder das chaves, graças especiais que inspirem suas decisões soberanas – independentes dos juízos dos homens – e sua missão pastoral, atenta às aspirações e necessidades autênticas do rebanho de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Oremos para que sua atuação encha de clareza os espíritos, dê força aos ânimos, e dê glória à Igreja santa de Deus”.

Foi neste estado de ânimo que o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira dirigiu ao Papa Francisco o seguinte telegrama:

São Paulo, 14 de março de 2013.
À Sua Santidade
o Papa Francisco,
Palácio Apostólico
00120 Cidade do Vaticano
Vaticano

Santidade,
Neste momento de júbilo para os católicos, pela eleição de um novo Pontífice, o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, seus diretores, membros e simpatizantes, dirigem-se a Vossa Santidade, após sua eleição ao Trono de São Pedro, para prestar-lhe a filial homenagem de sua fidelidade.

Vossa eleição enche de especial orgulho e alegria os corações dos latino-americanos, ao verem pela primeira vez no Sólio Pontifício um filho deste Continente da Esperança, tão amado de Deus e que ao longo de seus cinco séculos de história enriqueceu a Santa Igreja com o vigor de sua Fé e de seu devotamento.

Erguemos a Nossa Senhora de Guadalupe, Imperatriz das Américas, preces ardorosas a fim de que Ela obtenha da Divina Providência para Vossa Santidade suas mais escolhidas graças, com vistas a conduzir a Barca da Santa Igreja com a sabedoria e a firmeza que as tormentosas circunstâncias do mundo contemporâneo impõem.

Animados por essa esperança, pedimo-Vos, Santo Padre, nos concedais a Vossa Bênção Apostólica.

Instituto Plinio Corrêa de Oliveira
Adolpho Lindenberg
Presidente

Fonte: http://ipco.org.br/home/noticias/a-america-latina-entra-na-historia

São Paulo, segunda-feira, 11 de março de 2013

CONCLAVE — dois temas cruciais: “Autodemolição” e “Fumaça de Satanás”

Autor: Paulo Roberto Campos   |   10:55   3 comentários


Pesquisando algumas informações a fim de responder à questão colocada por Conceição Pires — na página própria para comentários referentes à matéria em meu blog pessoal (Blog da Família Católica) “Tendo em vista o ‘Processo de Autodemolição’ e a ‘Fumaça de Satanás’, os católicos desejam uma coisa: CLAREZA” —, encontrei alguns documentos. Lendo-os, julguei que seria interessante fazer um post com a pergunta e minha resposta, pois seria de algum proveito não apenas para a comentarista, mas também para os demais leitores de nosso blog. Aqui segue: 
“Falar de “autodemolição” e de “fumaça de satanás” na época do papa Paulo VI vá lá. Isto em 1978 até que concordo, mas não concordo em falar disso agora. Esses problemas não foram resolvidos com os papados seguintes? Em qualquer caso, classifico-me como uma pessoa que acha importante rezar para que nenhuma fumaça de satanás consiga diminuir a importância da Igreja Católica”. Conceição Pires.
 Seria uma enorme satisfação poder comunicar que a “autodemolição” e a “fumaça de satanás no templo de Deus” — expressões do Papa Paulo VI analisadas por Plinio Corrêa de Oliveira em seu memorável artigo CLAREZA (“Folha de S. Paulo”, 16-8-78) — não constituem mais problemas em nossos dias.

Igrejas modernizadas, 
cerimônias religiosas dessacralizadas
Pelo contrário, de lá para cá os problemas não fizeram infelizmente senão crescer. Basta atentar para o esvaziamento dos templos católicos em decorrência das funestas inovações conciliares, que facilitaram a expansão dos evangélicos. Com o falacioso pretexto de atrair o povo, afastaram-no mediante a modernização das Igrejas e das cerimônias religiosas, como se os fieis não estivessem sedentos das tradições que os padres progressistas aboliram. Estes, afinados no diapasão da “Teologia da Libertação”, transformaram a Santa Igreja de Deus numa verdadeira “Torre de Babel” — na qual reina muita confusão e as pessoas, mãozinhas para o alto, falam e cantam aos berros, tocam qualquer instrumento cacofônico, entram vestidas (ou desvestidas) de qualquer jeito...

Devido à crise da Igreja em seus dias, também João Paulo II e Bento XVI alertaram para os mesmos trágicos problemas.

João Paulo II quando declarou em 1981 que “foram difundidas verdadeiras e próprias heresias, no campo dogmático e moral, criando dúvidas, confusões e rebeliões; alterou-se até a Liturgia”.

Pouco antes de ser eleito Papa, em 2005, comentando a IX Estação da Via Sacra, o futuro Bento XVI escreveu (como ainda hoje li no site do Vaticano): “Deveríamos pensar também em tudo quanto Cristo tem sofrido na sua própria Igreja? Quantas vezes se abusa do Santíssimo Sacramento. [...] Quantas vezes se contorce e abusa da sua Palavra [de Nosso Senhor Jesus Cristo]. Quão pouca fé existe em tantas teorias, quantas palavras vazias! Quanta sujeira há na Igreja, e precisamente entre aqueles que, no sacerdócio, deveriam pertencer completamente a Ele! Quanta soberba, quanta auto-suficiência! [...] Senhor, muitas vezes a vossa Igreja parece-nos uma barca que está para afundar, uma barca que mete água por todos os lados. E mesmo no vosso campo de trigo, vemos mais cizânia que trigo. O vestido e o rosto tão sujos da vossa Igreja horrorizam-nos. Mas somos nós mesmos que os sujamos! Somos nós mesmos que Vos traímos sempre, depois de todas as nossas grandes palavras, os nossos grandes gestos”.

Como nossa missivista, Conceição Pires, pode ver, são os mesmos problemas registrados por Paulo VI em seu tempo. Mas é preciso reconhecer que ela tem razão ao escrever que acha “importante rezar para que nenhuma fumaça de satanás consiga diminuir a importância da Igreja Católica”.

Imagem de São Pedro na Praça
que leva seu nome, em Roma
Estamos às vésperas de um novo Conclave que escolherá o Papa sucessor de Bento XVI. Rezemos empenhadamente para que o Sacro Colégio dos Cardeais seja dócil à inspiração do Espírito Santo e, assim, o próximo Romano Pontífice tenha a força e a virtude necessárias para fazer cessar o desastroso "processo de autodemolição"; extinguir a maldita "fumaça de satanás" que penetrou no Templo de Deus; restaurar a Igreja e impulsionar o mundo inteiro rumo ao magnífico renascimento da Civilização Cristã. 

A Igreja, santa e imortal, poderá passar por períodos de graves crises — como acontece atualmente nesta crise sem precedentes — mas devemos ter a absoluta certeza de que Ela sairá vitoriosa, pois que a assiste o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo, que afirmou: “E eu digo-te que tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (São Mateus 16, 19).

São Paulo, sexta-feira, 8 de março de 2013

O Espírito Santo e o próximo conclave

Autor: Helio Dias Viana   |   19:19   1 comentário

Roberto de Mattei
(Tradução Helio Viana)


Em 5 de março de 2013 - Os olhos do mundo, não só dos católicos, estão voltados neste momento para São Pedro, a fim de saber quem será o novo Vigário de Cristo. A espera que se manifesta antes de cada Conclave é desta vez mais acurada e intensa, pela sucessão de acontecimentos que nos deixam chocados e confusos.

Massimo Franco escreve no “Corriere della Sera” de 27 de fevereiro de 2013 que “dentro da Cidade do Vaticano está se consumando o fim de um modelo de governo e de uma concepção do papado”, e compara a dificuldade que a Igreja atravessa hoje com a fase final da crise do Kremlin soviético. “O declínio do Império vaticano – escreve – acompanha aquele dos EUA e da União Europeia em crise econômica e demográfica. Mostra um modelo de papado e de governo eclesiástico centralizado, desafiado por uma realidade fragmentada e descentralizada”. A crise do império vaticano vem apresentada como uma crise de modelo de papado e de governo eclesiástico inadequado para o mundo do século XXI. A única saída seria a de um processo de “auto-reforma” que salvasse a instituição desnaturando-lhe a essência.

Na realidade, o que está em crise não é o governo “monocrático” conforme com a Tradição da Igreja, mas o sistema de governo nascido das reformas pós-conciliares, que nos últimos 50 anos vêm expropriando o Papado de sua autoridade soberana para redistribuir o poder entre as conferências episcopais e uma onipotente Secretaria de Estado. Mas, sobretudo Bento XVI e seus predecessores, por razões diversas de temperamento, se tornaram vítimas do mito da colegialidade de governo na qual sinceramente acreditaram, renunciando a assumir muitas responsabilidades que teriam podido resolver o problema da aparente ingovernabilidade da Igreja. A atualidade perene do Papado está no carisma que lhe é próprio: o primado de governo sobre a Igreja universal, da qual o magistério infalível é a decisiva expressão.

São Paulo, segunda-feira, 4 de março de 2013

Tendo em vista o “Processo de Autodemolição” e a “Fumaça de Satanás”, os católicos desejam uma coisa: CLAREZA

Autor: Paulo Roberto Campos   |   10:28   3 comentários

Raio atinge a cúpula da Basílica de São Pedro, em Roma, poucas horas após a renúncia de Bento XVI. Foto: Alessandro di Meo/AFP
A revista Catolicismo deste mês (edição nº 747), em cuja capa está estampada a foto acima, publica um luminoso artigo de Plinio Corrêa de Oliveira (1908-1995) que — como o leitor certamente perceberá — está impressionantemente vinculado aos acontecimentos da época atual de Sé Vacante[1]. Como se sabe, é o interregno iniciado no dia 28 último, com a renúncia de Bento XVI, e que se encerrará quando for escolhido seu sucessor. Apesar de ser um artigo que veio a lume há 35 anos (publicado na “Folha de S. Paulo” em 16-8-78), o autor, como afirma a revista, às vésperas de um novo Conclave[2], “poderia levantar em linhas gerais as mesmas perguntas nele formuladas, para as quais todos os católicos desejariam respostas claras”.

A seguir transcrevemos tal matéria, que o eminente líder e pensador católico escreveu às vésperas do Conclave de agosto de 1978, que elegeu o Papa João Paulo I.

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[1] Sé Vacante — do latim “Trono Vazio”.
[2] Conclave — do latim cum clave, que significa com chave. É a reunião fechada dos Cardeais na Capela Sistina para a eleição do Romano Pontífice.

Clareza 

Plinio Corrêa de Oliveira
Nesta época em que o público tem tanta influência até mesmo nos círculos mais reservados — nesta época em que tanta gente confunde público com publicidade, e imagina candidamente que a face da publicidade exprime sempre a do público — nesta época, enfim, em que tantas vezes um público átono, adormecido, deixa correr os acontecimentos sem entender o clamor publicitário, nem a conduta dos homens públicos, frequentemente hipersensíveis a tal clamor, pergunto: será real que as multidões veem e sentem as coisas como as apresentam tantos dos chamados meios de comunicação social?

No tocante ao Brasil, como à Igreja, sou levado a responder pela negativa. Deixo aqui de lado o Brasil, pois assim o manda o amor à brevidade. E passo a falar da Igreja. Da Igreja, sim, nestas vésperas de Conclave.

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Diante do caudal de nomes de candidatos ao Papado que lhe vão sendo apresentados, o povo não quer saber tanto qual o lugar de origem, a idade e a carreira eclesiástica, nem qual a fisionomia deles (fisionomia que cabe, o mais das vezes, em uma das variantes em curso: jovial-risonha, caridosa-tristonha, desgrenhada-frenética, esta última ainda não em voga para cardeais).

O que o povo quer saber se reduz a esta pergunta principal: Paulo VI anunciou que a Igreja estava sendo vítima de um misterioso “processo de autodemolição” (Alocução de 7-12-68) e que nela penetrara a “fumaça de Satanás” (Alocução de 29-6-72). O falecido Pontífice — ante cujos restos mortais me inclino aqui com a devida veneração — partiu, pois, para a eternidade com a autodemolição em curso, e a fumaça de Satanás em expansão

O que pensará seu sucessor sobre a autodemolição e a fumaça? Como se conduzirá ante uma e outra? Mil outras questões poderiam ser formuladas acerca do novo Papa. Mas as que acabo de considerar primam sobre as demais. Pois quem navega numa barca em meio à pior fumaça, e em companhia de passageiros que vão desconjuntando o madeirame, se interessa de imediato e principalmente em saber o que vai ser feito a respeito da fumaça e dos demolidores da barca. Ora, a Santa Igreja de Deus é a admirável, a nobilíssima, eu quase diria, a adorável Barca de Pedro. É natural que tais perguntas, se as formulem, nestes dias, também os passageiros desta Barca.

São incontáveis os católicos segundo os quais a fumaça e a autodemolição se identificam, a justo título, com duas grandes tendências existentes na Igreja de nossos dias. Uma destas tendências se desenvolve no plano teológico, filosófico e moral. É o progressismo

A outra tendência se desenvolve no tríplice plano diplomático, social e econômico. Ela se chama, segundo o ângulo em que é considerada, aproximação com o Leste, aproximação com o socialismo e aproximação com o comunismo.

Se considerarmos que o progressismo é, por sua vez, uma aproximação com os mil aspectos do que se convencionou chamar “mentalidade moderna” (a qual é, até certo ponto, uma ficção a que poucos homens aderem inteiramente, muitos só aderem com restrições e em proporções acentuadamente variáveis, e que não poucos rejeitam), chegamos à conclusão de que o futuro Papa terá seu pontificado essencialmente marcado pela atitude que tomar diante disto que podemos qualificar de dupla aproximação: a) a mundano-publicitária-progressista; b) a socialo-comunista.

Desculpe-me o leitor os neologismos. Talvez conviesse compô-los de outra maneira. Apresentam-se-me ao correr da pena, e me servem para exprimir fácil e rapidamente o que quero dizer. Poupam, assim, o tempo do leitor, como o meu. Em nossa época, a pressa obtém indulgência para muitas deselegâncias...

O que pensam dessas aproximações os múltiplos cardeais cujos nomes vão sendo lançados como “papabili”? Como vê cada um deles as correntes rumo às quais esses movimentos de aproximação os convidam? Como hidras que é preciso abater desde logo com o gládio de fogo do Espírito? Como adversárias inteligentes, dúcteis, e talvez um pouco bobas, com as quais é possível conduzir lentas, cômodas e quiçá até cordiais negociações? Como parceiras em uma coexistência, ou mesmo colaboração perfeitamente aceitável, e por alguns lados até simpática? Estas são, entre mil, as perguntas que a maioria dos passageiros da sacrossanta Barca de Pedro gostariam de fazer a cada “papabile”.

E para estas perguntas, que pairam no ar, o mais das vezes não vejo em torno de mim senão fragmentos de respostas, opacos, viscosos, totalmente insatisfatórios.

Ora, queiram ou não queiram, quando do alto da loggia de São Pedro [foto] for proclamado o nome do novo Papa, e o consueto clamor de alegria se levantar da imensa praça circundada pelas colunatas berninianas, ao mesmo tempo uma muda mas ansiosa interrogação se apresentará aos espíritos. Será o novo sucessor de São Pedro, ante os promotores das aproximações, um batalhador, um negociador, ou um ajeitador? 

E ele, em quem residirá o excelso poder das chaves, cujas decisões são soberanamente independentes dos juízos dos homens, mas cuja missão pastoral não o poderá deixar indiferente às aspirações e necessidades das ovelhas, se perguntará, na hora solene da sua aclamação: qual das três atitudes espera de mim este povo imenso?

Enquanto aguardamos, na prece ininterrupta, submissa e confiante, esse momento ápice do primeiro encontro estuante de júbilo e carregado de preocupações, resta-nos perguntar: o que deseja a grei fiel?


Vários, é bem claro, têm sua preferência definida por um papa que tome inteiramente esta ou aquela das atitudes, ante a dúplice aproximação. Classifico-me, todos o sabem, entre os que exultariam com a escolha de um papa combativo como São Gregório VII [pintura acima] ou São Pio X [foto acima]. Outros preferem nitidamente um papa “aproximacionista”, como foi em seu tempo Pio VII [pintura abaixo]. E assim por diante.

Mas a imensa maioria dos fiéis, o que desejará ela?

À primeira vista, parece apática. Tal apatia será desinteresse? Não o creio.

O que será então? A meu ver, é a expressão do concerto respeitoso, e por isso mesmo silencioso, de quem não entende, não concorda e nem ousa discordar.

Essa imensa maioria, em cujo silêncio me parece discernir traços óbvios de fadiga, angústia e desânimo, deseja de imediato, e antes de tudo, clareza. 

Sim, ela deseja, num silêncio que se vai tornando enfaticamente perplexo, saber sobretudo o que é esta fumaça, quais são os rótulos ideológicos e os instrumentos humanos que servem a Satanás como sprays de tal fumaça, no que consiste a demolição, e como explicar que esta demolição seja, estranhamente, uma autodemolição? 

Não é o que o senhor gostaria de saber, leitor? A senhora, leitora? Pois eu também. E como nós, milhares, milhões, centenas de milhões de católicos.

E o que há de mais justo, de mais lógico, de mais filial e de mais nobre do que pedirem os filhos da luz, àquele a quem foi dito: “Tu és pedra, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”, pedirem-lhe clareza?