Luís Afonso Assumpção, em artigo publicado em seu blog, refere-se de passagem ao fato de que investidores capitalistas do ocidente presenteiam países comunistas com toneladas de dinheiro. Isso me fez lembrar um comentário do professor Plínio Corrêa de Oliveira, dizia ele que esta atitude é por causa de uma "crença ingênua, de fundo "rousseauneano", de que o homem é naturalmente bom e só se torna agressivo em razão da miséria. Num mundo onde todos estejam saciados, os homens não cometeriam crimes, nem as nações empreenderiam guerras. Farte-se de riquezas o povo russo e o perigo de guerra desaparecerá. É este o pressuposto que leva tantos americanos – e não americanos – a depositar uma fé cega na coexistência pacífica. E assim se explica essa política, que depois da viagem de Nixon a Moscou se vem [1972] evidenciando, de encher a Rússia de fábricas, de técnicos, de oleodutos e de créditos esplêndidos para pagar tudo isto. Isto sai mais barato do que uma guerra, pensa Tio Sam."
Esse comentário faz parte de um artigo pequeno, mas muito interessante, já o título chama a atenção, que passo a publicar:
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"O Jornal", Rio de Janeiro, 4 de julho de 1972
Não do urso, é claro
Plínio Corrêa de Oliveira
Em declaração pouco posterior ao acordo de Moscou, o Sr. Kissinger deixou bem patente que tudo quanto Nixon combinou no Kremlin se baseia na persuasão de que os comunistas desejam sinceramente a paz; de tal sorte que a ser falsa essa hipótese os acordos de Moscou ruiriam com um castelo de cartas.
Esta afirmação convida a uma pergunta: no que se fundam os Srs. Nixon e Kissinger para estarem tão certos da lealdade pacifista do Kremlim? Como bem se sabe, os doutrinadores oficiais do comunismo consideram a moral – e portanto o respeito à palavra dada – um mero preconceito burguês. De outro lado o comunismo é, por sua própria índole, agressivo e imperialista: seu fim é a revolução proletária mundial. A história de nosso século regurgita de provas da sanha imperialista dos comunistas e de seu cabal menosprezo aos tratados e compromissos. Nos próprios dias da visita de Nixon a Moscou, a Rússia sorveu num só trago todo o petróleo do Iraque. Essa é a sinceridade do pacifismo soviético.
Mas, dir-se-á, é outra a razão do otimismo americano. A Rússia muito sinceramente não quer a guerra, porque esta não lhe interessa. Já que os armamentos vão ficar 1 a 1, ambas as partes só poderão ser prejudicadas pela luta. Mas, pergunto, quem garante que este equilíbrio bélico seja honestamente observado da parte soviética? Voltamos, assim, ao problema da sinceridade.
A meu ver, o otimismo de Nixon e de sua equipe – ou dos americanos que os apoiam – tem outra raiz. É a crença ingênua, de fundo "rousseauneano", de que o homem é naturalmente bom e só se torna agressivo em razão da miséria. Num mundo onde todos estejam saciados, os homens não cometeriam crimes, nem as nações empreenderiam guerras. Farte-se de riquezas o povo russo e o perigo de guerra desaparecerá. É este o pressuposto que leva tantos americanos – e não americanos – a depositar uma fé cega na coexistência pacífica. E assim se explica essa política, que depois da viagem de Nixon a Moscou se vem evidenciando, de encher a Rússia de fábricas, de técnicos, de oleodutos e de créditos esplêndidos para pagar tudo isto. Isto sai mais barato do que uma guerra, pensa Tio Sam.
Isto me faz lembrar um domador de circo que mantinha seu urso acorrentado, como é natural. E, como o homem ganhasse pouco, nutria parcamente o seu urso. Fraca e jugulada, a fera se mostrava relativamente submissa. Um dia, o domador se tomou de compaixão, porque o urso lhe abriu os braços para um grande amplexo. Pensou que com um pouco de carinho e mais alimento, a fera mudaria de índole. Imaginou ter chegado o dia da convivência pacífica entre ambos. Encheu o urso de tabletes de açúcar, soltou–lhe a corrente e aceitou o abraço. O resto da história foi sangue. Não de urso, é claro...
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