Estava lendo, esses dias, uma biografia sobre general Patton e um fato muito interessante me marcou, não que seja impressionante, mas porque serve de exemplo, confirmando a tese de que a sociedade norte-americana é profundamente aristocrática. Gostaria de transcrevê-lo em meu blog, mas temendo que os leitores não entendam toda a importância que o envolve, resolvi colocar de início um resumo que fiz de uma epígrafe do apêndice à edição norte-americana do livro Nobreza e Elites Tracicionais Análogas nas Alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza Romana, do professor Plínio Corrêa de Oliveira, deixando para um próximo post o fatinho da vida do general Patton.
Creio que o leitor, após passar a conhecer - se já não a conhece - toda a polêmica sobre a estratificação social nos EUA, entenderá melhor o que quero mostrar com o fato que tanto me marcou.
Bem, segue abaixo um resumo da já citada epígrafe.
Alexis de Tocqueville (1805 - 1859), autor do livro "Democracia na América", é o principal artífice de uma falsa visão da sociedade norte-americana.
"Nesse livro ele apresentou a uma Europa em ebulição revolucionária uma visão fascinante, embora indubitavelmente unilateral, de um país próspero e quase totalmente democrático, no qual os valores familiares, aristocráticos e hereditários não tinham mais lugar. A difusão desse mito na Europa facilitou enormemente a aceitação entusiasmada das idéias democráticas revolucionárias naquele continente."(Nobreza e Elites Tracicionais Análogas nas Alocuções de Pio XII, Prefácio à edição norte-americana, PLínio Corrêa de Oliveira).
Eis as próprias palavras de Tocqueville: "Na América, o elemento aristocrático sempre foi fraco desde suas origens. Hoje em dia, se bem que não esteja propriamente destruído, está de tal forma minguado que não se lhe pode atribuir qualquer influência no curso da vida pública. Pelo contrário, o princípio democrático tomou um tal dinamismo por força do tempo, dos acontecimentos e da legislação, que se tornou não só dominante mas todo-poderoso". (Alexis de Tocqueville, Democracy in America, vol. 1, p. 55)
"Entre as coisas mais inovadoras que descobri durante a minha estada nos Estados Unidos, nenhuma me impressionou mais do que a geral igualdade de condições entre a sua gente.... [Esta igualdade] confere uma peculiar orientação à opinião pública e um teor particular às leis.... Quanto mais aprofundava o estudo da sociedade norte-americana, mais me convencia de que esta igualdade de condições é o aspecto fundamental e central do qual derivam todos os outros, e ao qual minhas observações sempre me conduziam". (Alexis de Tocqueville, Democracy in America - New York, Vintage Books, 1945, vol. 1, p. 3)
Críticos de Tocqueville
Nathaniel Burt, historiador da classe alta de Philadelphia, ressalta que "muitas das posições [de Tocqueville] em relação à democracia eram distorcidas, porque ele não admitia, ou não queria admitir, a existência de uma aristocracia nos Estados Unidos". (Nathaniel Burt, The Perennial Philadelphians: The anatomy of an American Aristocracy – Boston, Little, Brown and Company, 1963, p. 592)
Bem aponta o Prof. Pessen que "Tocqueville não deixa claro se seus vôos de imaginação se referem à sociedade democrática norte-americana concreta ou a um modelo democrático abstrato.... Apesar de algumas de suas observações mais importantes estarem baseadas em ínfima evidência, elas foram aceitas por muitos de seus contemporâneos mais influentes". (Edward Pessen, Riches, Class and Power Before the Civil War, p. 3)
Em outra obra, Pessen continua sua crítica à análise de Tocqueville sobre a sociedade norte-americana de seu tempo, tal como foi apresentada no livro "Democracia na América": "Sua concepção da estrutura social norte-americana era baseada mais na lógica e em informações não comprovadas do que na evidência de fatos que o autor tinha pouco interesse em pesquisar. Apesar disso, durante muito tempo foi tida como verdadeira "bíblia" pela maioria dos estudiosos da sociedade norte-americana. No quadro social igualitário pintado por Tocqueville, cada americano era considerado como igual ao outro, não importando as circunstâncias de nascimento; e a riqueza era distribuída quase igualmente entre todos.... Este quadro pitoresco de uma democracia social rude e inebriante, porém, foi amplamente demolido pela pesquisa moderna." (Edward Pessen, Status and Social Class in America, in: Making America: the Society and Culture of the United States, edited by Luther S. Luedtke - Washington, D.C., U.S. Information Agency, 1987, p. 276)
Também Victor Lidz, sociólogo da Universidade de Pennsylvania, acusa Tocqueville de imaginar nos Estados Unidos um igualitarismo inexistente: "Nem a sociedade colonial nem a da Revolução [de 1776] e a dos anos imediatamente posteriores correspondiam ao tipo de ‘democracia’ descrito por Tocqueville. A sociedade almejada pela Constituição não era ainda democrática, mas uma hierarquia ordenada de grupos de diferentes status sociais fundados em ideais bem diversos da ‘igualdade’ que Tocqueville pretendeu ver na América". (Victor M. Lidz, "Founding Fathers and Party Leaders", in: Harold J. Bershady, ed., Social Class and Democratic Leadership. Essays in Honor of E. Digby Baltzell –Philadelphia, University of Pennsylvania Press, 1989, p. 235)
Porém foi a interpretação unilateral do escritor francês que dominou a historiografia e a sociologia norte-americanas até meados do presente século. Em sociologia, ela recebeu o nome de escola pluralista, por valorizar os aspectos horizontais, ecumênicos e dinâmicos da sociedade norte-americana (de fato presentes), negligenciando os fatores de estratificação social.
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Num próximo post, colocarei o fato anunciado.
Frase
"A Revolução Francesa começou com a declaração dos direitos do homem, e só terminará com a declaração dos direitos de Deus." (de Bonald).
São Paulo, segunda-feira, 6 de novembro de 2006
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