Resumo: Se Lenin vivesse em nossos dias, mais que falar do "tonto-útil", talvez preferisse falar do "moderado-útil", hoje encarnado na América Latina no presidente Lula, discutivelmente moderado, mas indiscutivelmente útil, ao serviço de Chávez, o sucessor de Fidel Castro |
1. Há poucos dias das eleições presidenciais venezuelanas, que se realizarão no próximo 3 de dezembro, o ostensivo respaldo do "moderado" presidente brasileiro Lula ao radicalizado presidente e candidato venezuelano Hugo Chávez, tomou de surpresa àqueles que viam no primeiro um aliado confiável e um contrapeso ao extremismo do segundo.
"O mesmo povo que elegeu a mim, que elegeu a Daniel Ortega, que elegeu a Evo Morales, te elegerá presidente da Venezuela", disse Lula, acrescentando que Chávez era uma "boa pessoa" e que ele o percebia pela sinceridade de "seu coração e de seu olhar" (*).
Chávez retribui qualificando a Lula de "irmão" e "amigo", prometendo que sua primeira viajem internacional, depois das eleições em seu país, será o Brasil.
2. Um dos diretores do Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, doutor Vicente Díaz, qualificou as palavras de Lula como "uma intervenção grosseira nos assuntos internos da Venezuela", e importantes figuras da vida política venezuelana também censuraram ao mandatário brasileiro, com palavras severas, mas inteiramente justificadas e proporcionadas.
3. Há quem diga que Lula foi a Caracas pagar tributo a Chávez – que é, na prática, o sucessor do ditador Castro – para agradecer lhe porque conseguiu manter a boca fechada durante o processo eleitoral brasileiro e, com esse silêncio, colaborou para que não se dissolvesse a anestesia a-ideológica que imperou nas eleições de dito país. Uma palavra de Chávez sobre o processo eleitoral brasileiro poderia ter prejudicado a Lula tanto como aconteceu no México, Peru e Equador, onde interviu em favor de seus aliados López Obrador, Humala e Correa, prejudicando-os em lugar de ajuda-los.
4. Não obstante, o que fica claro neste e em outros episódios similares, é o papel anestesiante e paralisante das sãs reações que exercem aqueles líderes que se apresentam como "moderados" mas que, nas horas decisivas, terminam pavimentando o caminho e apoiando aos líderes mais radicais. Os dirigentes "moderados", com sua política de contemporização para com os extremistas da esquerda, promovem um deslizamento suave, sem sobressaltos, de setores centristas da opinião pública rumo às novas formas de socialismo e de neopopulismo.
5. Se atribui a Lenín a expressão "tonto-útil" para qualificar àquelas pessoas que são semi-revolucionários, ou revolucionários de marcha lenta, mas que com seu ar sorridente, bonachão, dialogante e complacente, ajudam a pavimentar o caminho dos revolucionários de marcha rápida.
Se Lenin vivesse em nossos dias, mais que falar do "tonto-útil", talvez preferisse falar do "moderado-útil", hoje encarnado prototipicamente, em nível latino-americano, no presidente Lula, discutivelmente moderado, mas indiscutivelmente útil, ao serviço do novo César latino-americano.
Nota: Em dezembro de 2001, em Havana, durante a 10o. reunião do Foro de São Paulo, Lula havia feito similares elogios ao ditador Castro, diante dos chefes anarco-guerrilheiros colombianos das FARC e do ELN e de centenas de dirigentes comunistas do continente: "Apesar de que seu rosto já está marcado por rugas, Fidel, sua alma continua limpa porque você nunca traiu os interesses de seu povo. Graças, Fidel". Na prática, o "neo-moderado" Lula tem sido um dos maiores sustentáculos diplomáticos e financeiros da ditadura cubana, assim como hoje apóia ao regime chavista.
Publicado por Destaque Internacional - Informes de Conjuntura - Ano IX - No. 200 - São José da Costa Rica - 18 de novembro de 2006 - Responsável: Javier González.- Tradução: Edson Carlos de Oliveira
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