(Foto: O novo presidente da Colômbia Juan Manuel Santos, um dia antes de sua posse no cargo, recebe, em cerimônia indígena, uma investidura “espiritual”)
Começo observando que nem todo amanhecer é ensolarado, florido e com pássaros cantando. Muitas vezes o dia se inicia com um céu cinzento e com nuvens escuras no horizonte que nos dá a incerteza do que há de vir. Sair de casa tomando a prudência de levar um guarda-chuva não é má ideia.
E é com um guarda-chuva que acompanho os fatos decorrentes da vitória eleitoral do novo presidente da Colômbia.
Vamos a eles.
Em 7 de agosto, um dia antes da posse de Juan Manuel Santos, sob o título Un milagro político, a revista Semana que pertence ao jornal El Tiempo, trata da mudança de governo em seu país.
O artigo resume em duas linhas uma dessas nuvens escuras que preocupam a qualquer um: a mudança de atitude da mídia. Durante a corrida eleitoral, as pesquisas de opinião e os jornais indicavam que Santos perderia logo no primeiro turno para o seu principal oponente Antanas Mockus que tinha todo o ambiente midiático a seu favor.
Manuel Santos era mostrado ao público como um "hombre sin escrúpulos" e "obsesionado con el poder a cualquier costo". Mas bastou Santos vencer as eleições que tudo mudou.
Transcreverei trechos da notícia intercalando comentários deste blog.
“Si un extranjero que hubiera venido a Colombia antes de la primera vuelta [primeiro turno] y hubiera leído la prensa regresara ahora y leyera esos mismos medios, no podría creer que se estuviera hablando de la misma persona. (...)Ou seja, a mídia recebeu uma espécie de ordem para dar a impressão contrária. A tal ponto que deixa no ar a ideia de que Santos não comete um só erro.
“Hoy, viendo la televisión y leyendo esa misma prensa, Santos parecería ser el hombre que no comete un solo error.”
O problema é que se olharmos atentamente no horizonte, veremos que não é somente essa nuvem que nos causa apreensões. Infelizmente há outras muito mais carregadas.
“En cuanto a la polarización que vivía el país tanto a nivel nacional como internacional, esta parece haber desparecido de la noche a la mañana el 7 de agosto.” (O negrito é meu)As esperanças de dias ensolarados que o governo de Uribe prometia e cumpriu em grande parte na luta contra a guerrilha parece ter deixado de existir na véspera da mudança governamental.
Por quê?
“La seguridad democrática (...) dejó de ser prioritária para dar paso a la solución de los problemas sociales y económicos, cuyo rezago fue el costo de las victorias militares de la era Uribe."Traduzindo, o combate as FARCs e ao narcotráfico não é mais prioridade. O que explica a atual aproximação de Santos com Hugo Chávez.
“Desde el mismo día de su elección, Santos empezó a soltar, gota a gota, señales de cambio."A frase acima se encaixa perfeitamente no texto deste blog. Santos evitou falar das nunves escuras que traria consigo, deixou os eleitores pensarem que ele seria uma espécie de continuidade de Uribe. Mas, "gota a gota", foi soltando seus propósitos. Se a maioria das pessoas acham que garoa não molha, quanto mais uma gota.
“Su discurso de posesión mostró un talante de liberalismo tradicional muy distante del de centro-derecha que caracterizó al gobierno de Uribe y con el cual se identificaba al nuevo Presidente.”Detalhe importante: Identificava - verbo conjugado tempo passado e não no presente.
"Colombia se prepara, por lo tanto, para lo que Juan Manuel Santos denominó en su discurso "un nuevo amanecer".Realmente, trata-se de um novo amanhecer. Só não estou conseguindo encontrar o sol nesse panorama cinzento.
Vamos, agora, ver como começou esse "novo amanhecer" de Manuel Santos.
Na Cristandade os reis eram coroados por um bispo, indicando que seu poder vinha de Deus. E é mais ou menos nessas cenas de coroação que nossa imaginação se volta quando alguém nos fala da posse de algum chefe de estado onde este seja ligado oficialmente a religião. A Inglaterra, por exemplo.
Como vivemos em épocas conturbadas em que tentam nos passar a idéia panteísta de que a natureza é uma espécie de deus, Santos nada melhor achou para começar seu "novo amanhecer" do que pedir o consentimento de índios do norte da Colômbia para receber uma investidura “espiritual” um dia antes de sua posse como presidente.
O pedido de Manuel Santos foi aceito com restrições (vide notícia logo abaixo). Na cerimônia indígena, ele recebeu um bastão de mando como símbolo de sua autoridade e quatro pedras que significam seu compromisso com a natureza. (Cfr: AFP, 7/8/2010)
A conseqüência disso é que transparece que seu poder de mando como presidente da Colômbia não abarcaria aos índios caso eles não aceitassem.
Acha essa afirmação um exagero meu? Então leia alguns trechos do que escreveu um líder indígena na revista Semana um dia depois da posse – não “espiritual, mas oficial – de Santos (os negritos são meus):
09 de agosto de 2010Por aí se percebe o tom da situação que, no mínimo, Manuel Santos favoreceu. A luta pela fragmentação do território colombiano que as Farc´s não conseguiram levar a cabo, agora é a vez dos índios revolucionários tentarem.
¿Le cumplirá Santos a los pueblos Indígenas de Colombia?
Rodolfo Adán Vega Luquez
“Lo acogimos en nuestra casa, en el corazón del mundo. Le brindamos la sabiduría de nuestros líderes espirituales, en sitio sagrado. Le entregamos nuestros símbolos, revistiéndolo de investidura para el buen gobierno.
“La propuesta de 'Prosperidad económica' de Santos, si no tiene el consentimiento previo, libre e informado de las autoridades Indígenas y los mismos líderes espirituales que lo posesionaron ayer en la sierra, será tan nefasta y depredadora como el legado que deja su antecesor.
“El acto de posesión fue consultado, a lo que nuestros mamos luego de una reflexión y consulta interna accedieron al consentimiento. Ojalá, así como este acto simbólico de posesión fue consulto, esperamos que todas las leyes y megaproyectos que atenten contra nuestros territorios y el medio ambiente, no se lleven a cabo sin el consentimiento de nuestras autoridades.
“Ya que ni Marx, ni Lenin, ni Rosa Luxemburgo o Antonio Gramsci, tuvieron en cuenta que existían indígenas para su llamada revolución. De esta manera, tanto la izquierda como la derecha y su lucha por el poder y la acumulación, difieren del pensamiento indígena del buen vivir, de la cosmovisión sobre la tierra y la lucha histórica por los procesos autonómicos"
Isso tudo bem lembra a terceira parte do livro Revolução e Contra-Revolução, onde o professor Plinio Corrêa de Oliveira descreve a 4º Revolução Tribalista. Vale a pena dar uma lida, clique aqui.
Rezemos a Nossa Senhora de Chiquinquirá, padroeira da Colômbia, para que proteja essa nossa nação irmã e atrapalhe os planos da Revolução.
11 comentários:
Acredito que ainda é cedo para se saber com certeza o que está acontecendo,mas sem dúvida é perturbador ver o presidente Santos cometendo tamanhos erros,tomara que sejam inocentes erros.
Alguém precisa esclarecer este presidente,antes que o erro cause prejuízo.
Rogo à Nossa Senhora que detenha a Revolução na Colômbia!
Abraços.
Pelo desejo dos conservadores brasileiros o Brasil teria rompido relaçôes diplomáticas com Venezuela e Bolívia, implodido o Mercosul e aderido ao NAFTA. Não teriamos buscado mercados alternativos entre os países pobres e emergentes e não teríamos assumido qualquer posição de liderança na AL. Estaríamos hoje em guerra com os nossos vizinhos, serímos uma base militar americana e teríamos autorizado a tão sonhada ocupação amazônia pelos nossos irmãos do Norte. Além disso, estaríamos cativos ao comércio biliteral com os EUA (armadilha em que caiu o infeliz México - e deu no que deu, até um muro estão construindo para separar o " povinho"). Muito provavelmente a nossa economia estaria nos patamares do formidável endividamento inflado pela ditadura, estaríamos comprando armamentos caríssimos e obsletos e dependentes tecológica e culturalmente do império. Não teria havido investimento na área social e as quotas sociais teriam sido substituídas por políticas de extermínio. Esse quadro, defendido pelos senadores do PSDB/DEMsalão nos últimos oito anos, felizmente está afastado coma a eleição da Dilma logo no primeiro turno, pois os nossos nazi-fascistas entreguistas-racistas pensaram que tudo terminaria coma saída de cena do maior estadista do Brasil, o nosso Lula.
Pensaram errado. Agora se voltam para as conspirações e para as calúnias. Erram de novo. Nem mesmo os EUA acreditam em retorno à antiga configuração. Adeus, nazistas!
Prezado anônimo Simon Bolívar,
Você não poderia ter escolhido um nome fictício melhor para ter escrito o comentário.
Aliada aos seus argumentos, esse pseudônimo personificou perfeitamente a caricatura do pensamento esquerdista no Brasil que, sempre imaginando – a próprio gosto - os anseios dos seus adversários ideológicos, passam a fazer acusações gratuitas baseadas nessa mesma imaginação.
A questão da entrega da Amazônia pelos conservadores aos EUA é um exemplo disso. Qual é a prova dessa afirmação? Em que ela se baseia? Em nada. Trata-se de um certo tipo de acusação, muito comum na mentalidade esquerdista, cujo valor probatório é o simples enunciado dela. São conclusões que possuem o luxo de não necessitar de premissas. Mentiras que se aceitam como verdades pela força de tanto repetí-las.
Para ficar ainda mais caricato, só faltou você mencionar a famosa fraude espalhafatosa de um suposto livro que ensina nas escolas americanas que a Amazônia é território internacional. Achei estranho que não tivesse mencionado isso? Esqueceu?
Ainda mais, nesse ponto, é acusar a direita de ter um desejo que pertence a esquerdistas. O que fazem as esquerdas em relação às demarcações de terras indígenas para impedir que se transformem em territórios independentes?
Outro exemplo desse tipo de caricatura são as cotas. Parece que, para você, não se deve dar ao trabalho de analisar as objeções ao sistema de cotas. Não, isso é um perigo, pois durante a polêmica pode deixar transparecer as premissas comunistizóides de algo que querem que passe sob a máscara de humanismo. E, todo aquele que não concordar com cotas, simplesmente deve ser visto como quem quer instalar no Brasil “políticas de extermínio”. Esse realmente é um belo raciocínio caricato. Parabéns.
Outro sintoma de “caricaturez” é considerar o PSDB ou o DEM como partidos de direitas. Tudo que se opõem ao partidão é direita-golpista. Mas o pior efeito colateral dessa doença caricata é conseguir aludir aos casos de corrupção em políticos do DEM (“DEMsalão”) e, sem sentir o mínimo de vergonha, nada dizer dos membros do PT. Como se o mensalão fosse um problema restrito ao DEM.
Como ficam os políticos mensaleiros que, segundo você, o “maior estadista do Brasil” mantém em cargos governamentais ou no próprio Partido dos Trabalhadores? A prática do mensalão só é reprovável quando cometidos por políticos que não pertencem ao Partidão?
Para fechar com chave de ouro, como bom caricato, você conclui: “Agora se voltam para as conspirações e para as calúnias. (...) Adeus, nazistas!”
Como eu disse, é um perfeito caricato. E como tal, não podia resistir à forte tentação de carimbar de nazista quem não concorde com suas afirmações.
Ainda mais, conseguiu mudar o assunto da postagem. A prolixidade da quantidade de temas que você levantou em seu comentário revela que a "caricatureza" já está em estado crônico e irreversível.
É triste pensar que esse tipo de mentalidade existe em quantidade nos meios universitários. É a caipirice pseudo-intelectual do Brasil, fazer o quê.
Quando do golpe militar de 1964, que acocorou o Brasil dinate dos interesses dos fabricantes de arma do Texas e iniciou mesmo a ocupação da Amazônia (como faz o entreguista-traficante Uribe com a Colômbia), a TFP foi para as ruas com seus estandartes e seus métodos nazistas de manifestação para apoiar. Muitos dos integrantes dessa organização eram informantes e delatores, outros usavam armas. Você mesmo não nega, apenas diz que não há provas, como se o regime ditatorial não tivesse destruído 99% das provas.
A TFP saiu às ruas para apoiar a entrega da Amazônia aos "frabricantes de arma do Texas"? (o esquecimento de colocar "arma" no plural é do autor da expressão.
Sobre a questão do uso de armas por membros da TFP, peço que você mantenha a discussão no tópico que começou, do contrários, os leitores nem saberão do que se trata.
Você acusou em outro lugar neste blog que a TFP era o "braço armado" dos conservadores. Veja, o uso de armas registradas, de acordo com certas exigencias legislativas, para defesa pessoal até hoje não é proibido. O que é bem diferente de luta armada como a que a esquerda promoveu no Brasil. E, essa acusação, eu nego. Eu disse que não há provas porque é apenas uma acusação gratuita e pensei que não adiantaria de nada apenas negar. É sua palavra contra a minha.
No mais, o ônus da prova cabe ao acusador, não ao acusado. É uma regra que vigora em qualquer país onde a justiça não é politizada.
No que diz respeito aos métodos nazistas, é outra acusação falsa. O simple uso de estandartes é comum em diversos tipos de instituições, inclusive por partidos comunistas.
Se você se refere a "metodos nazistas" a forma de campanha da TFP em abordar as pessoas na rua, divulgar suas obras e explicar a elas o que a instituição defende, então eu confesso que não sei diferenciar o uso da liberdade democrática dos tais "métodos nazistas".
O que os nazistas faziam na Alemanha era agitação e greves, muitas vezes em conjunto com o partido comunista da Alemanha. E isso a TFP nunca fez. Bem ao contrário do seu "maior estadista da História" e sua candidata a presidência da república.
Com isso eu concluo que você usa muito chavões, típico dessa pseudo-intelectualidade esquerdista, e se assim continuar, vou pedir para você ir desabafar em outro lugar e seus comentários não serão mais aceitos.
Em seu blog você indica sites de apologia ao uso de armas de fogo, mas se justifica com a esfarrapada história da legítima defesa. Quem lhe ameaça? O nosso regime é uma das mais livres democracias do mundo. De quem você se defende?
Ao lado da pregação do uso de armas de fogo, veja o que você divulga em seu site:
"Senhor!
Tu que ordenaste ao Guerreiro de Selva
Sobrepujai todos os vossos oponentes.
Dai-nos hoje da floresta:
A sobriedade para resistir;
A paciência para emboscar;
A perseverança para sobreviver;
A astúcia para dissimular;
A fé para resisitir e vencer.
E dai-nos também,Senhor,
A esperança e a certeza do retorno
Mas se defendendo esta brasileira Amazônia
Tivermos que perecer,ó Deus
Que o façamos com dignidade
E mereçamos a vitória!
Selva!
A oração acima pertence ao exército brasileiro que tem o dever de defender a Amazônia dos invasores? Ela é nossa ou não? Decida-se!
"Em seu blog você indica sites de apologia ao uso de armas de fogo, mas se justifica com a esfarrapada história da legítima defesa. Quem lhe ameaça? O nosso regime é uma das mais livres democracias do mundo. De quem você se defende?"
Em meu blog indico sites que agem na legalidade e não na clandestinidade.
Sobre a legítima defesa, ela é um direito reconhecido por lei no Brasil.
No meu caso pessoal, não faço o uso desse direito por não me considerar ameaçado. Embora um pai de familia qualquer pode assim se defender - se agir de acordo com a lei e para a defesa de sua família - se achar necessário devido a bandidagem que corre solta nesse país.
Pelo jeito você não mora no Brasil.
O Simon Bolivar esqueceu de responder a uma importante pergunta, Edson. Por isso, se me permite, volto a fazê-la:
"O que fazem as esquerdas em relação às demarcações de terras indígenas para impedir que se transformem em territórios independentes?"
Respondo ao Silvio: A Constituição Federal proibe a "independência" de qualquer parte do território, significando que uma unidade da federação pode ter autonomia, mas nunca a soberania. A soberania também depende da constelação de países, que, se não a reconhecerem, não tem eficácia alguma. Assim, defendemos a autonomia dos terrritórios indígenas (se possível, ao ponto de constituirem suas instituições próprias, e até virar Unidade Federativa, mas, brasileiras, no Estado Brasileiro). Resumindo: por que não Estado da Raposa do Sol? Por que não, se a maioria etnica local, adquirindo a cidadania plena, cnforme a CF e a Lei, não votar para eleger um Governador, deputados estaduais? Tudo dentro da Constituição Federal, como uma UF do Brasil.
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