Encontrei no site Ética na TV um interessante artigo, traduzido por Edda Frost, de um critico de cinema do New York Post, Michael Medved, intitulado “As três grandes mentiras de Hollywood”.
Ele nos conta algo que qualquer um que conhece um pouco os EUA é capaz de perceber: o divórcio do cinema americano com o estilo de vida da nação. Os filmes dão uma idéia falsa do que é os EUA profundo e fazem com que seus espectadores do mundo todo confundam Nova Iorque com o resto do país ou mesmo em pensar que qualquer moça do Kansas se comporta como uma Britney Spears.
Esse fenômeno hollywoodinano é o que faz imaginar aqui no Brasil, mais especialmente nos ambientes de superficialidade intelectual dos centros acadêmicos, que o Partido Republicano seja representante de uma minoria nos EUA e que só ganha eleições comprando votos ou sabotando as urnas eleitorais (vide charge esquerdista ao lado). Se os filmes espelham a realidade norte-americana, então realmente não há outra explicação para o fato dos Democratas não se tornarem o partido único do país.
Como escreveu Medved:
Os produtores de filmes parecem ter prazer em assaltar os valores básicos da família e da decência pelos quais a maioria das pessoas continuam ter muito apreço. Não é surpresa que pesquisas recentes revelam que a esmagadora maioria dos americanos sente que Hollywood não tem idéia do que são seus valores pessoais.Quando a indústria de entretenimento é coloca contra a parede, sua justificativa se baseia em três grandes mentiras que o critico norte-americano refuta com conhecimento de causa.
Mentira número 1: “É só entretenimento e não influência ninguém”
Aqui Medved conta que participou de um fórum de discussão com representantes dos três maiores estúdios de Hollywood onde se passou a seguinte cena:
Quando eu critiquei o comportamento irresponsável da indústria cinematográfica, um dos participantes respondeu furioso que Hollywood é sempre acusada pelo mal que faz, mas nunca lhe é dado credito por seu impacto positivo. “Você tem de concordar que o filme “Lethal Weapon” salvou milhares de vidas.É dos tais argumentos que até um simples silêncio refuta. Michael Medved aponta com precisão a contradição desse raciocínio:
Eu não consegui lembrar de alguma mensagem salvadora naquele sangrento “thriller”, então perguntei o que ele queria dizer.
“Bem” ele respondeu: “Naquele filme, pouco antes da cena da grande perseguição, houve um intenso “close-up” de três segundos mostrando Mel Gibson e Danny Glover atando o cinto de segurança.”
Jack Valenti, presidente da “Motion Picture Association of America”, afirmou, então, que seus filhos, quando jovens, viram muitas cenas de violência na TV e conseguiram preservar seus valores.Ele estava sugerindo que as pessoas imediatamente imitariam o que viram por três segundos, mas os restantes super violentos 118 minutos do filme, não teriam qualquer influência. Não é esta uma contradição ilógica e absurda?
Nós todos já ouvimos alguma versão deste argumento, mas o alvo está errado. Só por que a mídia não influência todos, não significa que não influencie ninguém. Quando um anúncio ou comercial aparece na TV ninguém espera que o produto vá ser vendido para todos. Se um comercial influenciar uma pessoa em 1000 é considerado um sucesso. Do mesmo modo, se a TV e o cinema influenciarem uma pessoa em 1000 a se comportar do modo irresponsável e destrutivo que é freqüentemente glorificado pela media, então essas imagens terão profundo impacto na sociedade.Michael Medved se refere ainda que há mais de 60 estudos organizados por grandes universidades provando que longas exposições a imagens violentas na TV são capazes de alterar o comportamento das pessoas, tornando-as mais agressivas. O mesmo, digo eu, pode-se aplicar à cenas de imoralidade sexual.
Mentira número 2: “Nós só refletimos a realidade. Não nos culpe; culpe a sociedade”
Com a palavra, Michael Medved:
Se isto fosse verdade, então por que tão poucas pessoas testemunham assassinatos na vida real, mas todos nós os vemos na TV e nos filmes? O mais violento gueto não está em South Central Los Angeles, nem em Southeast Washington D.C.; está na TV.Mentira número 3: Nós damos ao público o que ele quer. Se as pessoas não gostam, podem desligar.
Quando se trata de mostrar comportamento sexual há uma descontinuidade semelhante. Uma pesquisa da “Planned Parenthood” (Paternidade Planejada, [organização abortista]) mostra que todos os anos, no horário nobre da TV há 65.000 referências sexuais. No entanto, um estudo do “Center for Media and Public Affairs”, mostrou que 7 em 8 encontros sexuais na TV envolvem relações extra maritais.
(...) O sociólogo da UCLA James Q. Wilson apontou um fato curioso: em ruas de cidades com vidros quebrados e não repostos, a criminalidade aumenta muito. A janela quebrada anuncia ao público: “Aqui não há autoridade, os valores estão quebrados, não há conseqüência. Hoje, televisão e cinema se tornaram gigantescas janelas quebradas para o mundo. Um retrato da vida sem padrões, sem disciplina, sem conseqüência, mandando a mensagem de que reina o caos.
(...) A última parte da mentira que diz: “Se você não gosta, desligue” tem a mesma lógica que “Se você não gosta da poluição pare de respirar”. Você pode não ouvir a cantora Madona. Você nunca escolheu colocar Madonna na sua mente, mas certamente você sabe quem ela é, e por que razão ela é famosa. Cultura popular esta por toda parte, é como o ar que respiramos. Por isso é que a mensagem da cultura pop é uma questão de meio ambiente.
(...) O acumulo desse material tem tremendo impacto em nossas vidas. Por isto é que nestes tempos em que demandamos que as empresas sejam responsabilizadas por poluir o ar e as águas, em que banimos fumar em lugares públicos e temos tido resultados, é apropriado pedir que as empresas de entretenimento mostrem responsabilidade por poluir a atmosfera cultural que todos respiramos.
5 comentários:
Muito interessante a análise que fez Michael Medved e as refutações a estes argumentos tão repetidos, até mesmo (e principalmente) nos meios acadêmicos.
O entretenimento influência sim, mas só as mentes fracas se deixam levar por tudo que vê e ouve.
Bom artigo,estou mencionando ele no meu blog.
Abraços
Prefiro hoje em dia em que Hollywood tem liberdade para mostrar o que quiser do que na época do Cógigo Hays que proibia de tudo, até mesmo casais interraciais, o que ajudou o proliferar o racismo e o preconceito, e o pior, com a ajuda de muitas associações que se diziam "cristãs".
Mais o problema está ai!
Se Hollywood parar de fazer essas podridões, eles param de ganhar dinheiro.
Não é segredo para ninguém que a baixaria americana é o que hoje sustenta esse país (músicas de baixa qualidade, filmes de pura apelação sexual,...).
Se de repente, de uma hora para outra, o mundo parar de consumir produtos de péssima qualidade dos States (grande, mas grande maioria hoje dos produtos do entreterimento americano), os Estados Unidos irão ter prejuízo de bilhões e bilhões de dólares.
Não tenho dúvida que os mais fundamentalistas protestantes americanos quando virem que esses bilhões estão indo embora, eles vão começar a mudar de fala e vão começar a dizer coisas do tipo "olha gente não é bem assim..."
André
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